sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Concordo médio

A sabedoria popular é um exemplo legítimo da expressão ‘do povo e para o povo’, já que é cria do povo e esse mesmo povo se delicia depois com tudo o que foi criado. E como integrante desse povo, aproveito o máximo da sabedoria popular que me é de direito, principalmente as frases de efeito como “é errando que se aprende”, “quem vive de passado é museu”, “o sujo falando do mal lavado”, entre muitas outras. Uma em particular, porém, acho mais curiosa, ou até polêmica, dependendo do ponto de vista. Trata-se da “gosto não se discute”. Ela se destaca exatamente por existir muita gente por aí confundindo gosto com opinião e cismando em discutir gosto. Sendo que essa muita gente por aí também é integrante do povo, então também tem acesso livre à sabedoria popular que lhe é de direito e deveria já saber que gosto não se discute.

“Mas então qual é a diferença entre gosto e opinião?” Não, essa não é mais uma frase querida do nosso povo, é só a indagação que imagino (espero) que façam nesse momento pra que o assunto continue. Bom, de acordo com um sábio contemporâneo, “o gosto nos é metafisicamente dado”. Como integrante do povo, deixo a pompa de lado e prefiro o linguajar popular para dizer exatamente a mesma coisa: desenvolvemos nosso gosto a partir de n aspectos de nossas vidas, psicológicos, sociais, culturais e por aí vai. Tal complexidade faz com que as premissas por trás do gosto sejam praticamente impossíveis de se rastrear. De repente nossos antepassados até tentavam e discutiam sem muito resultado, até que um belo dia alguém percebeu o quanto era inútil e instaurou a máxima que “gosto não se discute”. Já a opinião é formada por premissas factíveis, comprovadas e totalmente rastreáveis. Por exemplo, eu posso gostar de vermelho e você de azul, mas estudos comprovam (inventei) que vermelho é mais eficaz em varejo que azul. Então, por mais que você goste de azul, em uma discussão concorda com o fato de que o vermelho é mais adequado para varejo. Opinião.

O meio de campo complica quando, por gostar mais de azul, você ignora totalmente os fatos que mostram que vermelho é a melhor opção e afirma que na sua opinião o azul é o melhor. E começa a discutir gosto fantasiado de opinião. Como já ficou mais do que claro que gosto não se discute, o que fazer quando caímos na armadilha de uma batalha de gostos? Qual será a saída mágica para essa luta de achismos? A solução é muito mais simples que um duelo até a morte estilo Highlander. Tudo se resolve com o simples concordo médio.

O concordo médio é o recurso mais safo para terminar uma discussão descoberto apenas por alguns poucos sortudos até então. E o mais educado também. Ao mesmo tempo que você não dá razão para o que a outra pessoa falou, também não mostra como ela está equivocada nos pontos que expõe. Escolher ficar em cima do muro quebra de cara quem chega já cheio de dedos e cagando regra. E assim todos que sabem que gosto não se discute, quando caem em uma armadilha e vão parar no meio de uma discussão de gostos, encontram a saída mais pacífica possível. Uma solução simples e genial para um dos problemas mais sombrios da humanidade. Inclusive, sei que o povo, tão esperto com sua sabedoria popular, algum dia incluirá o “concordo médio” no seu repertório de maravilhas. Logo em seguida do “gosto não se discute”. Com o adendo que nem mesmo fantasiados de opinião.

Concorda? Médio?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Pequenos prazeres da vida

O lugar comum é muito criticado, julgado e até evitado pelas pessoas em geral. Eu inclusive me incluía no saco, até descobrir que o clichê pode ser muito mais divertido do que imaginam por aí. Mas não o clichê qualquer, a situação isolada por si só. A graça aparece quando o clichê é incorporado e vivido, quando nos tornamos um clichê ambulante. Alguma coisa no fato de você fazer exatamente o que todos evitam dá um brilho todo especial para a situação que só experimentando pra saber. Mas sem exageros. O clichê exagerado fica gratuito demais e não é apreciado, acaba sendo somente uma colaboração para que a situação fosse considerada clichê em primeiro lugar.

É claro que ao falar de clichê vivido me refiro mais especificamente a relações interpessoais. Sem restrições quanto à definição desse último, rolou algum mínimo interesse já é relação. A partir daí a coisa deslancha. Mulher do melhor amigo, aeromoça, chefe, professor, mulher casada, médico, instrutor de academia, entregador de pizza, secretária, aluno, bombeiro, estagiária, policial, etc. Felizmente (será?!) tenho amigos que apreciam um bom clichê como eu, e me serviram de ótima fonte de pesquisa e inspiração! Eliminando os fetiches e cenas de filme pornô, chegamos à nata das relações clichê. Como esse corte é bem relativo, tomo a liberdade de selecionar meus favoritos.

Em terceiro lugar temos o professor. Um clássico. A relação com o professor leva essa por ser de fácil acesso e ainda render vantagens. Professor pode ser de muita coisa, portanto, embarcar nesse tipo de relação quase não tem obstáculos. Garanta já o seu em uma esquina próxima de você! Se for professor de musculação então, ainda sai da brincadeira com um corpão.

A medalha de prata vai para o chefe. Super cômodo, afinal os dois trabalham no mesmo lugar, se vêem todos os dias. Porém, ao contrário do que muitos pensam, essa relação clichê pode trazer desvantagens se não for manejada com cuidado. Em caso de brigas ou términos, sua vida no trabalho pode acabar um inferno. Então, se essa for a sua escolha, aprecie com moderação e cuidado.

O grande campeão é a mulher do melhor amigo. Pelo simples fato lógico de ser a mais cruel, fria, desnecessária e FDP de todas as relações clichês. Ah sim, claro, mulher do melhor amigo, cara da melhor amiga, gêneros não são um problema! O que importa é reconhecer a pessoa que deliberadamente se rende à libido e se envolve exatamente com a única pessoa que não poderia. Com tantas opções por aí, o guerreiro que escolhe essa quer realmente correr de braços abertos para tudo o que é condenado pelo bom-senso.

Para todos que apreciam os pequenos prazeres da vida, á lá Amélie Poulain, certamente viver um clichê será providencial. Eu ainda estou no início da minha jornada de desbravamento do incrível mundo do lugar comum. Próximo passo: experimentar mais de um clichê em uma mesma relação.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Era uma vez

Que menina não cresceu querendo ser princesa? Pensando em um dia encontrar o príncipe encantado e viver feliz para sempre? Eu pelo menos sou uma princesa até hoje! Mas dispenso o príncipe encantado pra ser feliz para sempre. Uma carreira foda e uma BMW conversível dão conta do recado. E acredito que muitas pretendentes a princesa mudaram o final do seu conto de fadas também. Nada contra Ariel, Aurora, Cinderela e o resto da trupe. Só que continuar perseguindo um sonho da idade média em pleno século XXI é complicado, bem complicado. Até a bíblia eletrônica dos contos de fada, a Disney, migrou das bruxas más em 2D para os peixes e brinquedos em 3D. Ainda assim, acredito que os contos de fadas, e o 2D, têm seu valor. Eles nos mostram como a vida é mais divertida atualmente.

A própria Disney percebeu isso, com o filme Encantada. Todos os metidos a super maduros que não assistem a “esse tipo de filme” tratem de alugar Encantada. Vai por mim, ele rende boas risadas! Basicamente a história começa com a máxima do era uma vez. Donzela em apuros, bruxa má, príncipe bonitão, animais falantes na floresta. Até que em certo momento eles vão parar no meio de NY, como pessoas de carne e osso, mas nem por isso param de agir como seus respectivos clichês. MUITO ENGRAÇADO! Lógico que a previsibilidade ainda ta lá, de mãos dadas com o final feliz, mas foi realmente surpreendente ver a Disney rindo do seu próprio passado e encarando o conto de fadas clássico como irreal hoje em dia.

Inclusive, deveríamos agradecer que ele é irreal hoje em dia. Pensa só como era a vida quando essas histórias foram escritas, há alguns bons séculos. Nossos amigos medievais construíam castelos enormes, que apesar de terem quartos e mais quartos, em nenhum deles tinha sequer um computador, televisão, videogame ou ainda um radinho de pilha vagabundo tocando os novos hits da rádio real. Nada. Só camas, lareiras, penteadeiras. Dorme, acorda, se penteia, se aquece, e acabou, pode dormir de novo! Definitivamente não trocaria nosso ar poluído por um ar puro medieval, muito menos pra ser uma donzela em apuros (perdoem os trocadilhos). Nem mesmo incluindo aqueles vestidos lindíssimos na oferta especial. Para fugir do tédio lá atrás, só restava mesmo resgatar donzelas, lutar contra dragões, envenenar maçãs, ter amigos anões prestativos, escalar torres para deixar o cabelo crescer, entre outros.

A não ser que você fosse o rei. Muito antes do divórcio as amantes já marcavam presença. Enquanto quem não era realeza inventava formas de diversão nos reinos distantes, o rei se divertia com suas “preferidas”. E nada de donzelas indefesas, afinal o rei não era homem de sujar as mãozinhas resgatando ninguém. Isso era trabalho para os príncipes mais trouxas que se vestiam com roupas de mulher. O rei se limitava a sujar suas mãos somente de poeira, quando abria as portas disfarçadas de quadro das passagens secretas do palácio.

Realmente, a não ser que fosse pra ser rei e ficar brincando de passagens secretas, sou mais o meu iPod. Sem falar que pra ser rei, teria que virar homem. Pra me vestir de mulher, prefiro ser mulher mesmo.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Muitagradicida

Ilustríssimo, indefectível, digníssimo, fabuloso, inexpugnável, inexorável, incomparável, infalível Marlon,

ADOREI!!!!

Olha aí em cima, não tá lindo????

=)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sede

É tão curioso como bebidas se transformaram em eventos sociais. Quanta gente já não foi em um chopp sem tomar chopp, ou a um café sem tomar café, apenas para participar do social. Cinema não tem conversa (ou ao menos não deveria ter, e agradecemos a todos que não conversam no cinema), jantar é muito pomposo, almoço muito formal, dar uma volta no parque muito dominical, sair pra dançar,... muito dançante! Eventos sociais como chopp e café provavelmente nunca conseguirão ser substituídos por eventos não bebíveis e continuar mantendo sua função.

Onde mais você vai encontrar seus amigos pra jogar conversa fora, botar o papo em dia, ou ainda sair com a menininha bonitinha amiga de uma amiga sua? Chamar a galera pra tomar uma cervejinha em casa dá no mesmo, só muda o barril pela latinha, mas o objetivo continua o mesmo. Os infelizes que não bebem não se sentem de maneira alguma intimidados por um convite para tomar um choppinho. Esses pobres coitados que não aprenderam sobre os prazeres da vida vão e aproveitam o evento social com tudo o que ele tem a oferecer não alcoolicamente falando. Com direito a petiscos. E tem sempre os chatos metidos a chiques que “não gostam de chopp” e resolvem beber uma caipivodka, ou um drink. Eles continuam saindo pra tomar um chopp, mesmo bebendo o álcool de sua preferência que não nosso amigo fermentado.

Ou então o café. Quer pausa melhor para a tarde? Impossível! Tomar um cafezinho depois do almoço deveria ser lei como a siesta na Espanha. Diferente do chopp, o café já é mais um encontro para as tardes. Se bem que um choppinho pós-praia a tarde também é uma delícia. Mas voltando para o café, trata-se se um evento muito mais controlado, civilizado, que por mais que a cafeína altere nosso comportamento, costuma ter o efeito contrário do chopp. Acorda, em vez de dar com sono, e nos deixa mais alerta e atentos, em vez de mongolóides e sucessíveis a virarmos grandes fazedores de merda. Mas da mesma forma como o chopp, o café não é restrito a bebedores de café. Também trabalham com variedades como capuccino, chá, chocolate quente, entre outros. Sem falar nos petiscos da tarde. Em vez de pastel, provolone à milanesa, bolinho de bacalhau, temos bolo de cenoura com calda de chocolate, brownie com sorvete, torta de limão. Ou então a sobremesa e/ou salgadinho da sua preferência!

Eu particularmente adoro chopp e café. Mas costumo beber chopp no chopp e café no café. Expresso. Com adoçante, por favor.

Eu particularmente adoro café e chopp. Mas costumo beber café no café e chopp no chopp. Aliás, bateu uma sede. Chopp?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Maldito horário de verão

Mais um verão se aproxima e com ele chega o tão amado e esperado horário de verão. Horror quando acordamos cedo, aquela escuridão, noite, que não dá nenhuma vontade de levantar da cama. Mas o paraíso quando chega 17h, 18h, 19h sem sinal de pôr do sol, que só vai acontecer lá pras 20h. Ah, que beleza, sair do trabalho ainda de dia, às vezes até conseguindo ainda dar um pulo na praia. E o fim de semana? Nenhum problema em acordar uma hora da tarde com uma básica ressaca dominical, almoço em família e ainda tem a tarde inteirinha de sol pra curtir a praia. Das 15h às 20h ainda tem sol pra burro! Ninguém precisa acordar xingando pai e mãe por ser obrigado a almoçar com eles em vez que ir curar ressaca bebendo mais na beira do mar.

Mas nem tudo é um mar de rosas. Embriagado com as maravilhas do horário de verão, nem percebemos o que ele nos rouba maliciosamente. Vou compartilhar uma situação que aconteceu comigo, e foi quando percebi como o horário de verão é sacana.

Há algum tempo atrás, verão carioca, estava de férias e sem trabalhar no momento. Meus dias se resumiam a: acordar, almoçar, praia, malhar/correr na praia, tomar banho, sair com amigas, dormir. Era uma beleza! Estava no auge da minha inutilidade, não produzia nada, só gastava, eu era um grande passivo ambulante pra desgraça do meu pai. Nem fazendo pintura a dedo no maternal eu acho que era tão inútil, afinal de contas no fim do dia eu acabava com uma linda pintura que meus pais contemplavam como se fosse uma Monalisa. Mas voltando ao auge da minha inutilidade. Como eu saia quase sempre, acordava tarde quase sempre, almoçava e chegava na praia lá pras 3 da tarde. Fazia um social, enquanto o sol se encarregava da manutenção do meu bronzeado. Por volta das 19h, voltava pra casa para botar um tênis e ir malhar ou correr na praia vendo o pôr do sol, que, aliás, é uma ótima pedida. Depois voltava pra casa, banho tomado, comia uma coisinha para depois dar uma relaxada antes de sair. Mas cadê tempo pra relaxadinha pré-saída?

Quando eu acabava as minhas atividades matinais, já eram quase 9, 10 horas da noite! E já estava na hora de iniciar as atividades noturnas. Ou pelo menos como uma boa mulher confusa, começar a me arrumar e experimentar todas as roupas do meu armário para depois escolher a primeira de todas. Mulheres e homens meio afeminados sabem do que eu estou falando! E aquele tempo entre o dia e a noite, a famosa tardinha, muito recomendada para cochilos em geral ou só ficar jogado no sofá vendo televisão para relaxar e se entregar à moleza pós-praia? Pois é, ela desaparece no tão estimado horário de verão.

Esse ladrão de tardinhas muito malandramente seduz a todos com seus dias longos de sol e economia de energia, fazendo com que ninguém se dê conta do que estão perdendo. Eu já fui uma dessas pessoas desavisadas, até o fatídico verão inútil ali de cima, quando percebi que as tardinhas haviam desaparecido.

Portanto cuidado! Quando setembro for chegando, se empolgue com a proximidade do verão e seu comparsa o horário de verão, mas fique sempre com um pé atrás. Quando você mais precisar de uma deliciosa tardinha para descansar, bum, ela não estará lá!